LUIZ CARLOS PEREIRA
Computação quântica: uma tecnologia atual e mais próxima da sociedade do que nunca
Indicada para problemas com muitas variáveis, e em que haja várias soluções a serem avaliadas, em que o cálculo matricial é mais adequado que o sequencial usado atualmente, a computação quântica já tem sido utilizada em diversas áreas

O computador quântico não é o próximo passo evolutivo da computação, mas algo complementar, que só em determinados casos é melhor que os computadores clássicos de hoje. Ela é indicada para problemas com muitas variáveis, e em que haja várias soluções a serem avaliadas, em que o cálculo matricial é mais adequado que o sequencial usado atualmente.
De antemão, o necessário é entender que a computação quântica não é uma “ciência do futuro”: ela já está sendo usada em várias áreas, como na medicina, logística e segurança da informação. Como exemplificou Wagner Arnaut da IBM, na área financeira o computador quântico tem uso para a análise de perfil dos clientes ou para formulação e quebra de códigos criptográficos. Por isso, há o grande interesse dos bancos.
Também é importante saber que essa não é uma tecnologia inalcançável, que exija investimentos monstruosos, porque várias empresas já estão alugando horas de uso de suas máquinas em regime de taxímetro. Ou seja, uma vez que se saiba como usar, pode-se dizer que o computador quântico já está à mão.
Talvez, é certo dizer que o computador óptico seja mais revolucionário do que o quântico por utilizar luzes ao invés de circuito integrado, o que pode ser uma tecnologia viável em 10 ou 15 anos.
O funcionamento da sociedade sendo modificado pelas mudanças tecnológicas
O interesse nas novas tecnologias deve estar direcionado às mudanças tecnológicas, que mudam a maneira como a sociedade funciona. A principal característica da mecânica quântica da qual os computadores se beneficiam é o da superposição ou sobreposição: uma partícula quântica não tem apenas estados binários, como ligado e desligado ou zeros e uns. Ela pode estar em vários estados ao mesmo tempo.
De uma forma bem grosseira e bastante figurativa, se uma pessoa perguntar para um computador quântico quanto é 1 + 1, ele responderá que há uma boa probabilidade estatística que seja 2, e dará outro percentual para 1,99, outro para 1,95 – 1,70 ou mesmo para –2. Como já sabemos a resposta, parece fácil escolher, mas na prática não é assim em problemas complexos, e o que tem a maior probabilidade pode não ser a resposta ideal.
Mas com essa imprecisão, para que serve o computador quântico?
Um exemplo: digamos que eu seja de uma seguradora e quero decidir onde manter um carro reboque para atender mais rapidamente e com menos combustível uma determinada região – e que eu tenha 4 endereços para escolher. Tenho que considerar nesse cálculo todas as trajetórias possíveis, os locais onde historicamente há mais sinistros e o tempo médio de cada trajeto dependendo dos horários do trânsito.
Nessa condição, um computador simulará as trajetórias em cada uma das ruas da região nos vários horários, e escolherá os melhores percursos a partir de cada endereço, em cada hora. Ocorre que, a maneira de um computador clássico fazer isso é testando a trajetória 1, do endereço 1. Depois a 2 do endereço 1. A 3, e assim por diante, em um processo que, dependendo, obviamente, do tamanho da região e da capacidade da máquina, pode levar várias horas ou mesmo dias!
Mas um computador quântico faz todas as simulações ao mesmo tempo, de uma única vez e ainda vai indicar aquelas trajetórias estatisticamente melhores. Será possível, então, pegar apenas aquelas mais indicadas e colocar um computador clássico para simulá-las, obtendo a confirmação das melhores rotas e do melhor endereço para manter o veículo. Esse é um tipo de abordagem chamado de minimização das respostas, e leva uma fração do tempo daquele tomado por um computador clássico.
*Luiz Carlos Pereira é Executivo em Operações e Tecnologia e Vice-Presidente de Tecnologia e Governança da Pagos, Associação de Fintechs de Meios de Pagamento.
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