Salas Multissensoriais: Galeão conta com espaço para reforçar acolhimento de pessoas com autismo e promover inclusão
Ambientes adaptados oferecem regulação emocional, segurança e dignidade para pessoas neurodivergentes em locais de grande circulação
Estimativas da OMS: cerca de 2 milhões de brasileiros estão dentro do espectro autista. -Fotos: Eduardo Oliveira
Na última quinta-feira (25/09), o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, recebeu a visita do Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, para conhecer a Sala Multissensorial já disponível no local. Esses espaços são planejados para acolher pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras condições que demandam maior cuidado com estímulos sensoriais. O Brasil tem avançado nesse tipo de iniciativa — aeroportos como Congonhas (SP), Viracopos (Campinas), Recife, Brasília e Alagoas já contam com salas inauguradas —, reforçando a necessidade de expandir o acesso a locais que recebem diariamente milhares de pessoas.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2 milhões de brasileiros estão dentro do espectro autista. Para muitos deles, ambientes como aeroportos podem gerar sobrecarga sensorial devido ao excesso de barulhos, filas, luminosidade intensa e movimentação constante. Nesse contexto, as Salas Multissensoriais tornam-se refúgios fundamentais.
A neuropsicopedagoga especialista em autismo Silvia Kelly Bosi acompanhou a iniciativa. -Foto: Eduardo Oliveira
A neuropsicopedagoga especialista em autismo Silvia Kelly Bosi esteve presente na visita, a convite da escritora, mãe atípica e autista Aline Campos e do Ministro Silvio Costa Filho. Silvia já participou de projetos pioneiros no Rio de Janeiro, como a implantação da Sala Sensorial no Detran-RJ.
De acordo com ela, esses espaços representam um avanço concreto para a inclusão. “As Salas Multissensoriais são fundamentais para que pessoas autistas e suas famílias se sintam seguras em ambientes muitas vezes sobrecarregados de estímulos. Esses espaços oferecem regulação emocional, reduzem a ansiedade e permitem que a experiência de viajar, por exemplo, seja vivida com mais tranquilidade. É um recurso que não se limita à acessibilidade física, mas promove dignidade, respeito e pertencimento”, destacou.
A especialista também reforça que a adaptação beneficia diferentes públicos. “Não é apenas a pessoa autista que se beneficia: pessoas com TDAH, deficiência intelectual ou até mesmo um passageiro em crise de ansiedade podem usar a sala como um recurso para retomar o equilíbrio emocional. Trata-se de um espaço de cuidado universal, que amplia o conceito de inclusão”, acrescentou Silvia.
Esses ambientes contam com iluminação suave, sons controlados, objetos táteis e recursos de estimulação sensorial planejados para ajudar na autorregulação. O objetivo não é isolar, mas oferecer suporte para que o indivíduo possa retornar ao convívio com mais tranquilidade.
Para Aline Campos, a participação nesse processo tem um significado especial. “Para mim, é muito emocionante e gratificante ter participado desse programa de acolhimento ao passageiro com Transtorno do Espectro Autista, de iniciativa do Ministério de Portos e Aeroportos. Esse programa mostra que é possível criar sistemas e políticas públicas que realmente se adaptam às pessoas — e não o contrário. Nós, autistas, não precisamos mais nos anular para tentar nos enquadrar em moldes que não foram feitos para nós, mas para a maioria. Criar políticas que se adaptam às pessoas é incrível, é transformador”, afirmou.
Com iniciativas como essa, o Brasil se aproxima de uma realidade onde a inclusão não é apenas um discurso, mas uma prática concreta que transforma o dia a dia das pessoas neurodivergentes e suas famílias.
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